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Stephen Hawking (Inglaterra, 1942-2018). Obra: "Uma Breve História do Tempo. 1ª edição. Rio de Janeiro. 2015. Editora Intrínseca. 256p."

“Quando se tentou unificar a gravitação com a mecânica quântica, foi necessário introduzir a ideia de tempo "imaginário". O tempo imaginário é indistinguível das direções no espaço. Se podemos ir para o norte, podemos dar meia-volta e ir para o sul; da mesma forma, se podemos avançar no tempo imaginário, devemos ser capazes de nos virar e retroceder. Isso significa que não pode haver diferença para a frente e para trás no tempo imaginário. Em contrapartida, quando se olha para o tempo "real", há uma grande diferença entre essas direções, como todo mundo sabe. De onde vem essa diferença entre passado e futuro? Por que nos lembramos do passado, mas não do futuro? As leis da ciência não fazem distinção entre o passado e o futuro.” [pág. 180]

“O aumento da desordem ou entropia com o tempo é um exemplo do que chamamos de seta do tempo, algo que distingue o passado do futuro, estabelecendo uma direção. Existem pelo menos três setas do tempo distintas. Primeiro, há a seta do tempo termodinâmica, a direção na qual a desordem ou entropia aumenta. Depois, há a seta do tempo psicológica. Essa é a direção em que sentimos o tempo passar, a direção em que nos lembramos do passado, mas não do futuro. Enfim, há a seta do tempo cosmológica. Essa é a direção do tempo em que o universo está se expandindo, em vez de se contrair. Neste capítulo, argumentarei que a condição sem-contorno para o universo, em conjunto com o princípio antrópico fraco, pode explicar por que as três setas apontam na mesma direção — e, além disso, por que uma seta do tempo bem definida deve existir de fato. Argumentarei que a seta psicológica é determinada pela seta termodinâmica e que essas duas setas necessariamente sempre apontam na mesma direção.” [pág. 181]

“Resumindo, as leis da ciência não fazem distinção entre as direções para a frente e para trás do tempo. Contudo, há pelo menos três setas do tempo que distinguem o passado do futuro. São elas: a seta termodinâmica, a direção do tempo em que a desordem aumenta; a seta psicológica, a direção do tempo em que nos lembramos do passado, e não do futuro; e a seta cosmológica, a direção do tempo em que o universo se expande, em vez de se contrair. Como já mostrei, a seta psicológica é em essência a mesma que a seta termodinâmica, de modo que as duas sempre apontariam na mesma direção. A proposição sem-contorno para o universo prevê a existência de uma seta termodinâmica bem definida porque o universo deve partir de um estado liso e ordenado. E o motivo para observarmos essa seta termodinâmica em harmonia com a seta cosmológica é que seres inteligentes podem existir apenas na fase de expansão. A fase de contração seria inadequada, pois não possuiria seta do tempo termodinâmica forte.” [pág. 189]

“Dessa forma, temos evidência experimental tanto de que o espaço-tempo pode ser dobrado (pela curvatura da luz durante eclipses) quanto de que ele pode ser curvado da maneira necessária para permitir a viagem no tempo (pelo efeito Casimir). Poderíamos, então, ter esperança de que, à medida que avançássemos na ciência e na tecnologia, construiríamos uma máquina do tempo. Porém, se esse é o caso, por que ninguém ainda voltou do futuro e nos disse como fazê-lo? Pode haver bons motivos para se acreditar que seria imprudente termos o segredo da viagem no tempo em nosso atual estado de desenvolvimento primitivo, mas, a menos que a natureza humana mude radicalmente, é difícil acreditar que algum visitante do futuro não entregaria o ouro. Claro, algumas pessoas alegariam que avistamentos de óvnis são evidência de visitas de alienígenas ou pessoas do futuro. (Se alienígenas quisessem chegar aqui em um tempo razoável, precisariam viajar mais rápido do que a luz. Ou seja, as duas possibilidades podem ser equivalentes.) Entretanto, acho que qualquer visita de alienígenas ou de pessoas do futuro seria muito mais óbvia e, provavelmente, muito mais desagradável. Se eles pretendessem se revelar de algum modo, por que o fariam apenas para pessoas que não são vistas como testemunhas confiáveis? Se querem nos alertar sobre algum grande perigo, não estão sendo muito eficazes. Uma forma possível de explicar a ausência de visitantes do futuro seria dizer que o passado é fixo, pois, ao observá-lo, vemos que ele não tem o tipo de curvatura necessária para permitir a viagem de volta do futuro.” [pág. 198/199]

“Desse modo, a possibilidade de viajar no tempo permanece em aberto. Mas não quero apostar nisso. Meu adversário na aposta talvez tenha a vantagem injusta de saber o futuro.” [pág. 203]




Obs.: As expressões no texto entre colchetes ou parêntesis destacadas na cor azul não fazem parte do original.