Maria Valtorta (Itália, 1897-1961). Obra: "Lições sobre a Carta de São Paulo aos Romanos" (1948-1950) (Página 38/39 – Lição n° 15 – 12/12/1948) O Espírito Santo diz,
[...] Eu disse que do caos Deus criou o Universo, ordenando os materiais e elementos caóticos em uma perfeição de mundos, estações, criaturas e elementos que durou por milhões de séculos.
Porém, ao observar a Criação, poucos sabem meditar como a criação se assemelha a uma escala ascendente, a uma canção que sobe sempre mais, nota por nota, até chegar à nota perfeita e sublime. Como se assemelha a uma geração de vidas que da anterior surgem sempre mais completas e perfeitas até atingir a perfeição completa. Vejam:
primeiro das moléculas sólidas, dos vapores e fogos desordenados que constituíram a nebulosa primitiva, foram formadas a Terra e as águas, e na Terra e nas águas ainda misturadas com os futuros mares, lagos, nascentes e rios, os minerais ficam selados ou diluídos, enquanto as moléculas sólidas tornam-se a crosta e a fornalha para os fogos internos, para o enxofre e metais internos e para o fundo das águas.
A atmosfera se purifica por algum tempo, libertada como está em parte por aquilo que tornava pesada a nebulosa original, o nada caótico,
e a Terra, lançada em sua trajetória, ainda nua, estéril e muda, passa pelas [regiões do] espaço silencioso com as cristas calvas de suas montanhas emergindo das águas escuras das futuras bacias.
Então houve luz. Nem solar, nem lunar, nem luz estelar. O sol, a lua e as estrelas são criaturas mais jovens que o globo terrestre. Após sua criação, o céu, ou seja, o elemento “ar”, foi limpo de todos os resíduos da nuvem primitiva, e as estrelas e planetas brilharam dando elementos vitais ao globo terrestre com seu esplendor. No entanto, a luz existia antes deles. Uma luz particular, independente de qualquer outra fonte que não fosse da vontade de Deus. Uma luz misteriosa que só os anjos viram realizar suas misteriosas operações em favor do globo terrestre. Porque nenhuma das coisas criadas por Deus é inútil, nem nada foi criado sem uma razão de perfeita ordem. Assim, se antes havia luz e não as estrelas e os planetas, é sinal de que a Perfeição quis esta ordem criativa por uma razão útil e sensível. Depois vieram o sol, a lua e as estrelas. E o elemento “ar”, privado de gases tóxicos e rico daqueles úteis para a vida, favoreceu a persistência de novas criaturas: as plantas. Aquelas que ainda são criaturas escravizadas em suas raízes, mas que já têm movimento em sua folhagem; aquelas que, uma vez criadas, já trazem em si elementos para se reproduzirem, o que não é concedido ao pó da terra, aos minerais e às águas. Essas três coisas podem sofrer mutação em seu aspecto e natureza, de madeira submersa em carvão, de fogos a enxofre, de carvão em gemas e transformando águas em vapores e destas em águas, ou podem queimar; no entanto, se reproduzirem, eles não podem. O mundo das plantas pode. Nele já está a seiva, os órgãos reprodutivos capazes de fecundar e serem fecundados. O que falta neles, no entanto, é o livre arbítrio, mesmo instintivo. Eles obedecem às leis sazonais e climáticas e à vontade dos elementos e do homem. A palmeira não pode viver e frutificar em terras frias, nem o líquen polar enfeitar as rochas de zonas tórridas. Uma planta não pode florescer fora da época de floração, nem escapar de um ciclone, incêndio ou de um machado. E, no entanto,
a vida vegetal já é um prodígio de ascensão do caos à perfeição da Criação.
Uma ascensão que aumenta com a vida animal, livre em seus movimentos, em seus instintos e na vontade de suas criaturas. Também há uma ordem nele. Porém, o animal já goza da liberdade de escolher para si um covil e uma companheira, de escapar das armadilhas do homem e dos elementos; ao contrário, possui um instinto, além disso,
um magnetismo próprio que o avisa de um cataclismo que se aproxima e o orienta a buscar segurança, assim como tem uma capacidade rudimentar de pensar e decidir como se alimentar, se defender, atacar e sobre como tornar o homem seu amigo e ser amigo do homem.
No animal, além da perfeição criativa da linfa vital (o sangue) e órgãos reprodutivos como são nas plantas, existem também as perfeições criativas de poeira, pedras e minerais. Afinal, os cientistas não te ensinam que o esqueleto, a medula óssea, o sangue e os órgãos são compostos e contêm aquelas substâncias chamadas minerais, das quais a Terra que o homem habita e os animais povoam é composta? Portanto, o que está nos reinos inferiores: minerais e plantas, já está representado e aperfeiçoado nos animais.
E a escala sobe. A nota se torna mais alta e mais pura, mais completa, por engrandecer mais a Deus. E aqui está o homem; homem a quem os três reinos precedentes – o primeiro privado de linfa [sangue], o segundo de movimento, o terceiro de razão – acrescenta-se o quarto reino: o da criatura sensível dotada de palavra, inteligência e razão. Razão que regula os instintos. Uma inteligência que abre o pensamento a compreensões e visões mais, às vezes infinitamente, superiores às que dão aos animais a capacidade de pensar um bem material. A palavra que o torna capaz de exprimir as suas necessidades e afetos, de compreender as do próximo e, sobretudo, de louvar a Deus, seu Criador, e orar ou evangelizar a quem o ignora. No homem, existe o reino mineral, o vegetal, o animal, o humano, e a perfeição na perfeição, o espiritual. Aqui está a escala que sobe à ordem sobrenatural da desordem do caos, passando pela ordem natural. Eis como a criatura natural na qual todos os elementos e características daquilo que forma as outras criações são representados e combinados em síntese, são combinados e aperfeiçoados; à criatura – medite bem – feita de lama, ou seja, com o pó em que se fragmentam os sais minerais, e com o elemento água, dotado de calor (o elemento fogo), com alento (o elemento de ar), com uma visão natural e intelectual (o elemento luz), com sangue e humor [aquoso], com glândulas e órgãos reprodutivos (linfa), com instintos e com pensamento, com movimento, liberdade e vontade, Deus infunde Seu hálito , que é “o sopro da vida”.
[...] A alma é o que distingue o homem dos animais e o torna um deus acima de todos os outros seres criados, o deus-rei que domina, subjuga, entende, instrui, fornece e que faz do homem um deus por meio de sua origem e destinos futuros . A alma, iluminada por sua origem divina, é aquela que sabe, quer e pode [fazer as coisas], com sua força já semidivina. Uma força que Deus apóia e assiste poderosamente quanto mais uma alma se eleva na justiça e o homem se diviniza com uma vida de justiça.
É a alma que dá ao homem o direito de dizer a Deus: “meu Pai”. É a alma que faz do homem um templo vivo do Espírito de Deus. É a alma que faz da criação do homem a obra mais perfeita da Criação. Mas então alguém poderia dizer: “Então, é com o homem, e o homem justo, que se atinge o último degrau da escala ascensional, a nota mais alta desta canção divina, a perfeição da perfeição criativa”. Não. Tudo isso é criação de uma criação sensível. É procissão por procissão. É a união da criação natural com uma criação sobrenatural.
No entanto, ainda não é perfeição.
A perfeição é Jesus. A perfeição é o Cristo. O Homem-Deus. A perfeição é o Filho de Deus e do Homem. Aquele que pela Divindade não teve senão o Pai [o Espírito Santo de Deus], Ele que pela Humanidade não teve senão a Mãe [a Virgem Imaculada]. Aquele que em vestes de carne incluiu as duas Naturezas. Juntas Nele estão essas duas naturezas, que uma distância infinita sempre mantém separadas a perfeição até mesmo do homem mais santo e a de Deus.
Somente em Jesus a natureza divina e a humana estão unidas e não se confundem, mas formando um único Cristo. Nele, o Filho do homem, toda a criação sensível é representada como em cada homem; a criação supersensível é representada: a natureza espiritual; e por último representado está o Incriado, o Eterno: Deus, Aquele que sem nunca ter sido gerado, é, Aquele que, sem outra obra senão o Seu amor, gera.
O Cristo: Aquele que diviniza a matéria, que a glorifica e que restaura a Adão sua dignidade; o Cristo: o anel que se junta ao que foi quebrado, o Cordeiro que revirgina o homem na inocência que é a Graça. Por meio de Sua natureza divina, Ele pode fazer tudo; por meio de Seu amor humano-divino, Ele pode fazer tudo; pela Sua vontade, Ele tudo pode, porque dá tudo.
Quem sabe contemplar a Cristo possui Sabedoria porque Ele não é apenas a Perfeição divina, mas também a Perfeição humana. Quem o contempla com sabedoria, vê a pessoa admirável do Filho do Homem em quem está a plenitude da santidade.
Nota/comentário do site revelacaocatolica.com:
Na revelação acima diz-se que : “O sol, a lua e as estrelas são criaturas mais jovens que o globo terrestre”. Segundo as teorias científicas atuais, sem adentrar na questão da criação/formação das estrelas, o nosso sistema solar (o sol e os planetas) se formou teoricamente ao mesmo tempo; porém, o Sol teve o seu “aglomerado de gás” antes da formação da terra, a ponto de limpar a área para permitir planetas a se formarem à sua orbita. Fala-se, então, que o Sol foi o primeiro a se formar, o que parece contrariar a revelação. Entretanto, não devemos nos esquecer que o globo terrestre, como mostra a revelação, foi criado em um estágio embrionário, inicial, sem vida, inerte. É provável que nessa época o sol ainda estava se formando (era apenas um “aglomerado de gás”), ou seja, pode-se dizer que o sol não tinha sido criado/formado. Note-se que logo no início da revelação já se afirma que “a ordenação do Universo durou por milhões de séculos”. O livro do Gênesis mostra que a terra, já criada, mas incompleta, necessitou da criação (formação?) do sol e da lua para obter um ambiente adequado com o fornecimento de luz, calor e energia para a geração e o desenvolvimento da imensa diversidade da vida. Certamente, há outras interpretações possíveis.