Maria Valtorta (Itália, 1897-1961). Obra: "Lições sobre a Carta de São Paulo aos Romanos" (1948-1950) (Lição n° 1 – Página 16/17 – 02/01/1948) O Espirito Santo diz, «“Predestinado o Filho de Deus por Sua própria virtude.” Qual? Uma? Várias? De que natureza? Eu direi a você.
Primeiro. Da natureza divina.
O Filho do Pai é Deus como o Pai e, tendo assumido a carne humana, não destruiu nem interrompeu a união entre o Pai, de quem o Filho é gerado e em cujo Filho o Pai se agrada. Não somente. O Filho de Deus não deixa de ser Deus por ter assumido a natureza do homem. Gerado por Deus Pai através da difusão natural do Amor perfeito, que tem necessidade de amar por sua natureza e que por sua dignidade tem necessidade de amar uma Perfeição igual ao Seu [próprio] infinito – todo outro amor de Deus, excluindo o da Santíssima Virgem, nosso amor, é a bondade de Deus – só Ele, com o amor de Filho e de Filho de Deus, satisfaz a Deus com um amor digno Dele.
[...] O Verbo não cessa de ser Deus porque Ele se fez Homem. Não é uma humanidade capturada, uma degradação da Divindade, Sua natureza eterna. Mas é uma Humanidade elevada, mesmo sem perder sua natureza, na perfeição da unidade com a Divindade, fato afirmado pelos prodígios realizados por Cristo. O Pai sempre com o Filho. O Filho sempre Deus como o pai. Porque
a Divindade não pode se dividir ou mudar sua natureza por meio de uma aparente divisão e aniquilação na natureza inferior à da natureza divina. Jesus Cristo é, portanto, o Filho de Deus pela natureza divina do Verbo gerado pelo Pai, que se encarnou pela força do Espírito Santo para a salvação da humanidade.
Mas – da segunda maneira – porém, Ele também predestinou a Si mesmo, Filho de Deus, por meio da natureza humana, virtuosa de maneira perfeita.
Jesus Cristo, o Filho gerado do Pai da semente de Davi, teve um livre arbítrio. Como Deus e como o homem. Suas ações mostram essa liberdade de sua vontade, prestada de acordo com como Ele quis, quando Ele quis, em quem Ele quis. E nem os elementos nem as criaturas poderiam se opor à Sua vontade, que era a perfeita livre vontade de Deus. Eles não foram capazes. Apenas uma vez eles foram capazes de fazer. Porém, então foi porque o Filho de Deus não prevaricou. Ele não abusou deste poderoso livre arbítrio para escapar da morte na cruz. Se Ele tivesse feito isso, Ele teria cometido um roubo, um mau uso, uma prevaricação de Seus infinitos poderes como o Filho de Deus.
E ao fazer isso, Ele teria se tornado como o rebelde Lúcifer, ainda mais do que Lúcifer.Cristo, porém, nunca foi um rebelde. Em nada; nem mesmo a repugnância humana natural pela tortura o fez assim.
Porque acima de seu livre arbítrio estava a vontade do pai. E o mais perfeito Filho divino, em Sua Natureza igual à do Pai, não se aproveitou disso, mas com amor reverente sempre disse Aquele que O gerou: “Seja feita a Tua vontade”, e colocou humilde e obedientemente Seus pulsos nas cordas para serem arrastados para o sacrifício.
Portanto, Ele tinha livre arbítrio, mas o usou para ser perfeito como Homem, assim como Ele era perfeito como Deus.
Diz-se: “Ele não podia pecar”. Essas palavras seriam corretas se Cristo fosse apenas Deus. Deus não pode pecar, Ele é a perfeição. No entanto, sua segunda natureza está sujeita a tentações. E as tentações são o meio para pecar, se não forem rejeitadas. E duras tentações foram lançadas contra Ele. Todo o ódio contra Ele. Todo o rancor, o medo, a inveja do Inferno e dos homens estavam contra Ele. Contra o Forte que eles sentiam ser o Vencedor, mesmo que tivesse a mansidão de um Cordeiro. No entanto, Jesus não queria pecar. Dê ao Forte o reconhecimento correto de Sua força. Ele não pecou porque não queria pecar. E também por este aperfeiçoamento desta Sua justiça, contra todas as armadilhas e os acontecimentos, Ele se declarou o Filho de Deus. Não é dito a todos vocês: “Vocês são deuses e filhos do Altíssimo”? Ele também era porque, em Sua humanidade igual a sua, Ele era Deus e Filho do Altíssimo por justiça em cada ação sua.
A sabedoria vos diz, ó homens, que a predestinação da progênie divina em Jesus nascido de Maria da linhagem de Davi, além de ser da palavra do Pai, dos milagres, e da palavra do Mestre e de sua ressurreição, é dado por este domínio Dele sobre as paixões do homem e sobre as tentações dadas ao Homem. Santo por Sua natureza divina, Ele queria ser santo mesmo de acordo com a natureza humana, o verdadeiro Primogênito da família eterna dos filhos de Deus, co-herdeiros do Reino dos Céus.
Nota/comentário do site revelacaocatolica.com:
Em resposta à dúvida sobre "se Jesus podia ou não ter pecado, caso ele desejasse", o Padre Paulo Ricardo, no site "https://padrepauloricardo.org/episodios/jesus-podia-pecar", esclarece que (parafraseando suas palavras): essa é uma discussão teológica tradicional, não uma verdade de fé da Igreja, um dogma. Na opinião dele, sendo Jesus a pessoa que ele era – investido de duas NATUREZAS (divina e humana), mas uma só PESSOA divina –, não haveria como ele pecar, não obstante ele fosse detentor de livre-arbítrio, liberdade e vontade humanas. Conclui ainda afirmando que existem atos pecaminosos tão extremos que, por causa da pessoa que se é, jamais seria possível cometê-los, no entanto, a pessoa permanece livre. De fato, uma situação análoga (guardadas as devidas proporções), seria tentar oferecer a uma mãe amorosa e dedicada benefícios e vantagens para que ela, voluntariamente, rejeitasse o seu próprio filho recém-nascido, que ela gerou com todo amor, cuidado e carinho. Em tese, considerando apenas o seu livre-arbítrio e a sua liberdade, ela poderia realmente rejeitá-lo; na prática, entretanto, seria impossível por conta de tal conduta colidir, frontalmente, com o seu amor de mãe (e até mesmo com o instinto maternal).