Maria Valtorta (Itália, 1897-1961). Obra: "O Evangelho como me foi revelado" (1944-1950) (Vol. 10 – Paixão e Morte de Jesus – Cap. 605. Desespero e suicídio de Judas Iscariotes. Se ele tivesse se arrependido, ele ainda poderia ser salvo – Página 37/40 – 31/03/1944) Jesus diz:
«Terrível, mas não inútil.
Muitas pessoas pensam que Judas não cometeu um pecado grave. Alguns chegam ao ponto de dizer que ele é até bem merecedor de perdão, porque a redenção não teria acontecido sem ele e que, portanto, ele está justificado aos olhos de Deus.
Eu te digo solenemente que, se o Inferno já não existisse e não fosse perfeito em seus tormentos, teria sido criado um ainda mais terrível e eterno para Judas, porque de todos os pecadores e almas condenadas, ele é o mais condenado e o maior pecador, e por toda a eternidade não haverá mitigação de sua sentença.
O remorso dele poderia tê-lo salvado, se ele o tivesse transformado em arrependimento. Mas ele não se arrependeu e, ao primeiro crime de traição, ainda perdoável por causa da grande misericórdia que é Minha fraqueza amorosa, ele acrescentou blasfêmia e resistência às vozes da Graça, que ainda queriam falar com ele por meio de lembranças, por meio de terrores, através do meu sangue e do meu manto, através dos meus olhares, através dos rastros da instituição da Eucaristia, através das palavras de Minha Mãe.
Mas ele resistiu a tudo. Ele queria resistir. Como ele queria trair. Como ele queria amaldiçoar. Como ele queria se suicidar. É a vontade que importa nas coisas. Tanto no bem como no mal. Quando alguém cai sem vontade de cair, eu perdôo.
Considere Pedro. Ele me negou. Por quê? Nem mesmo ele sabia por quê. Pedro era um covarde? Não. Meu Pedro não era covarde. Ele enfrentou o grupo dos sodados e os guardas do Templo e ousou ferir Malcus com a espada para Me defender, arriscando sua própria vida com isso. Ele então fugiu, sem vontade de fazê-lo. Depois ele me negou, sem vontade de fazê-lo. Mais tarde, entretanto, ele permaneceu e continuou no caminho sangrento da Cruz, no Meu Caminho, até que ele chegou à morte na cruz. E então ele prestou testemunho de Mim com muita eficiência, a ponto de ser morto por causa de sua fé destemida. Eu defendo Meu Pedro. Sua reação de medo foi a última de sua natureza humana. Entorpecido pelo peso de sua humanidade, ele estava adormecido. Mas sua vontade espiritual não estava presente naquele momento. Quando acordou, não queria permanecer em pecado, mas queria ser perfeito. Eu o perdoei imediatamente. Judas, por outro lado, não quis sair do pecado.
Você [Maria] diz que ele parecia louco e hidrofóbico. Ele ficou assim por causa da fúria satânica [Maria Valtorta diz que Judas passou a ter medo até da água, porque via o sangue de Cristo em tudo e sentiu que estava se afogando].
Seu terror ao ver o cachorro, animal raro principalmente em Jerusalém, foi consequência do fato de que, desde tempos imemoriais, essa forma foi atribuída a Satanás para aparecer aos homens [Maria Valtorta diz que Judas foi atacado por um cachorro raivoso que o mordeu três mordidas]. Nos livros de magia, afirma-se que uma das formas preferidas por Satanás para aparecer aos homens é a de um misterioso cachorro, gato ou bode.
Judas, já presa do terror provocado por seu crime, estando convencido de que pertencia a Satanás por causa de seu crime, viu Satanás naquele animal perdido.
Aquele que é culpado vê sombras de medo em tudo. É sua consciência que as cria. Então Satanás instiga essas sombras – que ainda poderiam levar um coração ao arrependimento – e as transforma em horríveis fantasmas que levam ao desespero.
E o desespero leva ao último crime: o suicídio.
Qual é a utilidade de jogar fora o preço da traição, quando tal privação é apenas o fruto da ira e não é corroborada por uma justa vontade de arrependimento?
[Jesus se refere a Judas ter devolvido o dinheiro aos membros do Sinédrio] Somente nesse caso o ato de se despojar dos frutos das más ações tornar-se-ia meritório. Mas ele não fez isso. Foi um sacrifício inútil.
Minha Mãe, e Ela era a Graça que falava e Minha Tesoureira que concedia perdão em Meu nome, disse-lhe: “Arrependa-se, Judas. Ele perdoa… ”.
Oh! Eu o teria perdoado! Se ele tivesse se jogado aos pés de Minha Mãe dizendo: “Misericórdia”, Ela, a Mãe Misericordiosa, o teria apanhado como um homem ferido, e sobre suas feridas satânicas, pelas quais o Inimigo o havia imbuído do Crime, ela teria derramado Suas lágrimas para salvar. Ela o teria trazido a Mim, ao pé da Cruz, segurando-o pela mão, para que Satanás não o agarrasse e os discípulos não o ferissem. Ela teria trazido ele para que Meu Sangue caísse antes de tudo sobre ele,
o maior de todos os pecadores. E Ela teria sido a admirável Sacerdotisa no Seu altar, entre a Pureza e a Culpa, porque
Ela é a Mãe das virgens e dos santos, mas também é a Mãe dos pecadores. Mas ele não queria.
Medite sobre o poder do livre arbítrio, do qual vocês são os árbitros absolutos. Por meio dele você pode ter o Paraíso ou o Inferno. Medite sobre o que significa persistir no pecado.