^{[Pedro, ao discursar na reunião para a eleição do substituto de Judas, diz:]} Ele então conheceu o desespero e odiou o mundo inteiro depois de odiar a Deus, e ele amaldiçoou tudo o que o mundo tinha lhe dado e ele se matou enforcando-se em uma oliveira no olival que ele comprou com suas iniqüidades, e no dia em que o Cristo ressuscitou gloriosamente dentre os mortos, seu corpo pútrido e já vergonhoso explodiu e suas entranhas se espalharam no chão aos pés da oliveira, tornando aquele lugar impuro. O Sangue redentor choveu no Gólgota e purificou a Terra, porque era o Sangue do Filho de Deus, que se encarnou por nós. Na colina perto do local do infame Conselho, não sangue, não lágrimas de bom remorso, mas a sujeira de entranhas podres choveu na poeira. Porque nenhum outro sangue poderia se misturar com o Sangue Santíssimo naqueles dias de purificação, em que o Cordeiro nos lavava em Seu Sangue, e foi possível para a Terra, que estava bebendo o Sangue do Filho de Deus, beber também o sangue do filho de Satanás. O fato é bem conhecido. E também se sabe que Judas, em sua fúria de alma condenada, levou o dinheiro da infame transação de volta para o Templo, golpeando com ele, por mais impuro que fosse, o rosto do Sumo Sacerdote. E sabe-se que com aquele dinheiro, que havia sido retirado do Tesouro do Templo, mas não podia mais ser colocado de volta nele, porque era o preço de sangue, os príncipes dos Sacerdotes e os Anciãos, após consultar uns aos outros, compraram o campo do oleiro, como diziam as profecias [Jeremias 32: 6-10; Zacarias 11: 12-13], especificando até o seu preço. E o lugar será entregue à posteridade com o nome de Campo de Sangue. Portanto, tudo sobre Judas foi dito, e que até mesmo a lembrança de seu rosto desapareça de nós, mas tenhamos em mente os caminhos pelos quais ele desceu para ser o príncipe do Reino das trevas eternas, apesar de ter sido chamado pelo Senhor ao Reino dos Céus, para que nós próprios não os pisemos imprudentemente, tornando-nos outros Judas, pela Palavra que Deus nos confiou e que ainda é o Cristo, o Mestre entre nós.

Nota/comentário do site revelacaocatolica.com:

Vejamos o que dizem as escrituras:

Mateus 27:3-10:
3. Judas, o traidor, vendo-o então condenado, tomado de remorsos, foi devolver aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata, 4. dizendo-lhes: “Pequei, entregando o sangue de um justo”. Responderam-lhe: “Que nos importa? Isto é lá contigo!”. 5. Ele jogou então no templo as moedas de prata, saiu e foi enforcar-se. 6. Os príncipes dos sacerdotes tomaram o dinheiro e disseram: “Não é permitido lançá-lo no tesouro sagrado, porque se trata de preço de sangue”. 7. Depois de haverem deliberado, compraram com aquela soma o campo do Oleiro, para que ali se fizesse um cemitério de estrangeiros. 8. Essa é a razão por que aquele terreno é chamado, ainda hoje, “Campo de Sangue”. 9. Assim se cumpriu a profecia do profeta Jeremias: Eles receberam trinta moedas de prata, preço daquele cujo valor foi estimado pelos filhos de Israel; 10. e deram-no pelo campo do Oleiro, como o Senhor me havia prescrito.
Atos dos Apóstolos 1:15-19:
"15. Em um daqueles dias, levantou-se Pedro no meio de seus irmãos, na assembleia reunida que constava de umas cento e vinte pessoas, e disse: 16.“Irmãos, convinha que se cumprisse o que o Espírito Santo predisse na escritura pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam Jesus. 17. Ele era um dos nossos e teve parte no nosso ministério. 18. Esse homem adquirira um campo com o salário de seu crime. Depois, tombando para a frente, arrebentou-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram. 19. (Tornou-se este fato conhecido dos habitantes de Jerusalém, de modo que aquele campo foi chamado na língua deles Hacéldama, isto é, Campo de Sangue.)

Como se pode ver, na revelação de Maria Valtorta tanto a versão do Evangelho de Mateus (onde diz que os sacerdotes compraram o campo do oleiro) quanto a dos Atos do Apóstolos (que diz que Judas comprou o campo, onde se matou) foram contempladas no discurso de Pedro. Há pelo menos duas explicações possíveis para essas passagens: A primeira é que os dinheiros e os campos adquiridos por Judas e pelos Sacerdotes são diferentes: o primeiro é o local onde Judas se matou. Possivelmente ele o tinha comprado antes da traição, utilizando o dinheiro que roubava das doações destinada aos pobres (ele era o Tesoureiro), conforme afirmado em João 12:6: “Dizia isso não porque ele se interessasse pelos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela lançavam." O segundo campo era chamado de "campo do oleiro" e foi comprado pelos Sacerdotes com o dinheiro que Judas tinha aceitado para trair Jesus e que O levou à morte. Em razão disso, esse local foi renomeado para "campo de sangue". A segunda explicação é que se trata do mesmo dinheiro e do mesmo local. Embora os sacerdotes tenham efetivamente comprado o campo em que Judas tenha se matado com o dinheiro da traição, esse dinheiro, na verdade, era de propriedade do próprio Judas e, por essa razão, lhe foi atribuída, ainda que indiretamente, a propriedade. Não se sabe muito bem como os negócios eram feitos naquele tempo e qual o nível de formalidade. Além disso, como está escrito em Mateus 27:3-10, o dinheiro era "preço de sangue" e, talvez, os sacerdotes não se sentiram à vontade para se apropriar pessoalmente dele. Há que se considerar ainda que o acontecimento descrito pelo evangelista Lucas pode não estar descrito de forma completa. Afinal, nenhum dos apóstolos testemunharam a desonesta negociação do campo de Judas ou do campo do oleiro para saberem quem realmente fez a aquisição, muito menos o evangelista Lucas. Eles não foram testemunhas oculares para terem certeza absoluta disso. Por esse motivo, pode ser que Lucas tenha feito um relato baseado em uma história popular, com base na tradição oral. Essa tradição embora não comprometa a verdade dos fatos em si, pode causar alguma imprecisão na descrição do fato.