Maria Valtorta (Itália, 1897-1961). Obra: "Lições sobre a Carta de São Paulo aos Romanos" (1948-1950) (Página 100/101 – Lição n° 39 – 16/06/1950) O Espírito Santo diz,
[...] Deus disse a Moisés: “Terei misericórdia ... Terei compaixão ...” No entanto, Sua misericórdia e compaixão não começaram a partir daquele momento. Embora estejam unidas à justiça divina, elas já existiam no Éden na presença dos dois prevaricadores, condenados no tempo com trabalho, tristeza, miséria, exílio e morte, mas perdoados por toda a eternidade com a promessa da Redenção e pela Redenção.
Ainda mais: a misericórdia e a compaixão já existiam antes mesmo de o homem viver, cujo pecado futuro não foi ignorado por seu Criador. E isso, de ter criado o homem para dar-lhe o Céu e a progênie e semelhança divinas, e tê-lo criado já sabendo que estava destinado por sua própria vontade a ser um pecador, um rebelde, um prevaricador, um ladrão, um assassino, violento, um mentiroso, concupiscente, sacrílego e idólatra – todas as tendências humanas malignas estando presentes nele por causa da condescendência humana, no homem que deveria ser santo – e de ter, acima de tudo, criado o homem sabendo-o capaz de matar uma vez a Sua Palavra [Jesus Cristo], que assumiu a Humanidade para o homem, e feri-Lo inúmeras vezes, tantas quanto os grãos de areia que constituem as profundezas dos mares, com os seus pecados, até a Sua vinda redentora no fim dos tempos, dá a medida exata da misericórdia infinita e compaixão de Deus.
Ele observou Sua Palavra ab eterno, e Seu Pensamento eterno pensou em todas as coisas que Ele teria criado para Sua Palavra; em júbilo, Ele admirou em Seu pensamento as inúmeras belezas e maravilhas da Criação que teriam sido feitas para a Palavra no momento certo. Mas, ao mesmo tempo,
o Pai das luzes viu aquele poema criativo, toda luz e bondade, manchar-se de uma mancha desfigurante e venenosa, origem de todo pecado e infortúnio.
Como quem pára de admirar para contemplar um lugar de delícias, todo bálsamo e flores, águas puras e cantos de pássaros, e que então treme de horror ao ver sair uma cobra venenosa e agressiva que quebra, morde e mata plantas e animais, e corrompe as águas e as flores, assim também,
o Pai do Verbo e do homem, contemplando ab eterno a futura Criação na qual tudo teria sido criado “bom”, viu a cobra atacar, corromper e envenenar tudo, e trazer tristeza a vocês; Ele viu o homem caído, Ele viu Caim, o assassino de Abel, e a figura de outro Caim (Israel) que teria matado o novo Abel: Sua Palavra.
Mesmo o mais santo dos homens, ao saber de algo semelhante, teria, senão odiado, pelo menos sentido a indiferença crescendo para com o ingrato, desnecessariamente beneficiado, dispersor dos benefícios recebidos. Não Deus.
Deus sabe tudo. No entanto, Sua misericórdia e compaixão não morrem nem enfraquecem. Em vez disso, eles nascem precisamente deste conhecimento eterno, e ab eterno, Eles [a Trindade Divina] decretam que o Filho precisa ser sacrificado, visto que o homem e os homens serão pecadores e assassinos de sua parte eterna e de seus irmãos, e a fim de torná-los novamente “vivos”, “ filhos”e “co-herdeiros”.Ele será o Filho do Homem, o fiel e santíssimo Adão, o Abel e o Cordeiro imolado pelos Cains deicidas. E do primeiro Pecado e do segundo Pecado – o do Éden e o do Templo [refere-se ao Templo de Jerusalém, que condenou Jesus] – virá a Redenção.
E Deus será compassivo e misericordioso com quem Ele deseja. Isto é, com todos aqueles que, por sua vez, quiserem ser, por boa vontade, “filhos de Deus”, tendo recebido a Cristo com amor e tendo seguido e praticado os mandamentos e ensinos da Palavra divina. Deus sempre tira o bem de tudo.
Ele tirou do Pecado de Adão o bem da Redenção, medida do Amor divino infinito e perfeito.
[...] Vocês são pecadores. Todos vocês. Mesmo os mais bons são imperfeitos. Jesus era inocente, santo e perfeito. E, no entanto, o Pai o carregou com a carga total dos pecados dos homens para que pudesse consumar no Gólgota e O presenteou com o cálice mais amargo, amargo com toda a amargura e todas as repugnâncias: o abandono de Seu Pai, a tristeza de Sua Mãe, a traição de Seu amigo e apóstolo [Judas Iscariotes], a covardia dos outros apóstolos, a negação de Seu Cefas [de Pedro] e a ingratidão do povo. Nenhum homem entre todos os homens carregou ou carregará a carga, nem beberá o cálice que esmagou e entristeceu Cristo: o Inocente.
Saiba, portanto, como imitá-lo. Em Sua perfeita boa vontade e em Sua santíssima obediência, para tirar o seu bem de tudo o que Deus permite que caia sobre você para sua própria prova e para sua própria recompensa. »