Maria Valtorta (Itália, 1897-1961). Obra: "Lições sobre a Carta de São Paulo aos Romanos" (1948-1950) (Página 115 – Lição n° 47 – 08/11/1950) O Espírito Santo diz,
«“Um sacrifício vivo – serviço razoável.”
Os sacrifícios eram a base e as formas da religião antiga. Tudo foi obtido e tudo foi expiado por meio de sacrifícios. Por meio do sacrifício, pretendia-se honrar a Deus e apaziguá-lo, agradecendo-lhe pela vitória ou pela cura. Foi a era do sacrifício material. E era lógico que assim fosse, visto que não havia outro rito, nem qualquer outra forma óbvia de honrar o Eterno e invocar Sua ajuda. O homem, que ainda não havia sido ensinado pelo Verbo Encarnado e que carecia de uma Vítima sagrada para um Sacrifício perpétuo e perfeito, sentia, no entanto, mesmo através de uma lei natural, que o Criador, o Deus verdadeiro ou o deus adorado nas religiões individuais, deveria receber os mesmos dons que Ele deu ao homem, e assim [o homem] usou animais e frutos da terra em um holocausto para que eles pudessem ser verdadeiramente sacrificados.
No entanto, eles eram “um sacrifício vivo”? Não. Eram sacrifícios de animais ou de produtos vegetais, sendo o primeiro já morto e o segundo já retirado da terra nutrida. Nenhuma vítima viva foi colocada para consumir seu sacrifício a fim de honrar a Deus. E o sacrifício sempre foi relativo, mesmo que fosse de animais de grande porte e de grande valor material. Nunca, antes do Cordeiro-Cristo ser imolado para apaziguar e expiar a ira divina e os pecados humanos,
nunca um homem foi sacrificado, exceto em religiões idólatras, ou se sacrificou para dar honra e expiação perfeita a Deus. E, portanto, o sacrifício sempre foi relativo e imperfeito, pois, por causa dos pecados dos homens, animais que eram menos culpados que os homens, eram imolados,
substituindo no altar aquele que era realmente culpado.
E todos os pecados, pela bondade de Deus e que
Ele mesmo indicou esses sacrifícios na expectativa do sacrifício perfeito, foram expiados assim.
Todos exceto um: o Pecado Original. Para este, montanhas de vítimas não teriam sido suficientes. Mesmo que de uma só vez, todos os touros, bezerros, cordeiros e cabras fossem imolados – o que durante séculos transformou o Templo em um matadouro perpétuo, especialmente durante as festas rituais, fluindo com rios de sangue e fumegando com as fogueiras das vítimas –, o sacrifício não teria sido suficiente para lavar o pecado original.
Para que o espírito do homem pudesse ser restaurado à Graça e o homem restaurado à sua dignidade de filho de Deus, co-herdeiro do Céu e para que a Justiça pudesse ser apaziguada e o Mal vencido, era necessária uma Vítima perfeita, uma única Vítima que, sendo Deus como o Deus ofendido, pagaria como Deus a Deus, a redenção do homem, e como o Homem Santíssimo, Ele expiaria pelo homem pecador. Somente o Homem-Deus, Jesus, poderia ter apaziguado Deus e redimido o homem, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. E Jesus foi imolado. Porém,
Seu sacrifício não foi consumido em carne morta, mas em um Corpo vivo no qual todos os tormentos foram lançados para expiar todos os pecados dos quais o Inocente se carregou para consumir todos eles.
Sacrifício total: do espírito de Cristo provado pelo abandono do Pai para reparar o pecado do espírito de Adão, culpado por ter abandonado Deus e a Sua Lei; do intelecto perfeito do Filho do Homem para reparar o orgulho de Adão; da carne inocente do Cordeiro de Deus, a fim de reparar a luxúria de Adão. E para que o mundo, para sempre pecador, pudesse ter sempre uma vítima perfeita na presença da imolação, o eterno Cristo e Pontífice constitui o sacrifício perpétuo: aquele
da Eucaristia na qual é ainda e sempre Cristo em Corpo, Sangue, Alma e Divindade que é oferecido e consumido nos altares.
Sacrifício perpétuo e sacrifício vivo. O novo sacrifício da religião perfeita. “Este é o Meu Corpo, este é o Meu Sangue que foram entregues por vocês. Façam isso em minha memória.” Ele usa o presente [tempo]. Porque de fato, até o fim dos tempos, o Sacrifício será sempre novo e sempre igual ao consumido por Cristo, igualmente válido perante Deus e a favor dos homens Porém, ao Sacrifício vivo que se consome sobre os altares, o homem deve agregar a ele seu próprio sacrifício individual, aquele de todas as horas a serem cumpridas em todas as suas ocupações, deveres e, acima de tudo, na vontade de Deus, mesmo se for uma vontade de sofrimento.
Um sacrifício que pode ser qualquer um da carne, na forma de doenças, pobreza e trabalho exaustivo; moral, na forma de injustiças, calúnias e incompreensões; ou espiritual, na forma de perseguições por parte dos homens ou abandono de Deus para testar a fé de Seu servo. E mais: fidelidade à Lei preservando corpos, pensamentos, sentimentos e espíritos de maneira casta, justa e amorosa.