Maria Valtorta (Itália, 1897-1961). Obra: "Notebooks 1944" (Página 419 – 01/11/1944) [Maria Valtorta diz:] Esta manhã, às 6 horas, tive uma visão que, pelo menos em parte, vai deixar alguns incrédulos, mas que para mim tem sido uma fonte de conforto e também de tristeza.
Vi o alto Paraíso com sua população inumerável e alegre de santos na bem-aventurança da contemplação de Deus. Os espíritos infinitamente cândidos que foram absorvidos pela visão de Deus eram como luzes incalculáveis de chamas amorosas.
Todos eles tinham seus rostos e amor fixados em um ponto: a Santíssima Trindade.
Mas no que eu chamaria de limite do Céu, bem onde começa o Reino bendito, um espírito diferente apareceu tanto na aparência quanto na ação. Na verdade, a aparência era de uma candura menos resplandecente, um pouco mais opaca, quase diria acinzentada também na fisionomia que, porém, já mostrava as características dos espíritos benditos: rosto e membros traçados apenas com linhas de luz.
Da mesma forma, seu traje – mesmo sendo branco – não brilhava, ainda não era uma luz de pano como a das outras.
Parecia que acabava de sair de um lugar triste e sombrio, que havia escurecido sua roupa e sua cor. Sua atitude também era diferente da dos outros. Ele parecia lutar entre o desejo de adorar a Deus e o desejo de me olhar com um olhar estranho; um olhar que parecia me pedir desculpas, para dizer-me: “agora eu sei”, dizer-me: “te amo”, dizer-me: “obrigada”, dizer-me: “fui cega, mas agora eu vejo". Não sei como explicar, ele parecia sério, quase triste mas, ao mesmo tempo, plácido e sereno, humilde mas majestoso ...
O espírito era minha mãe. E era inconfundível pela semelhança na aparência e na expressão, um dos raros momentos em que ela deixou seu coração e sua razão falarem.
Procurei muito pelo meu pai, mas não o vi. E, no entanto, creio que ele está mais na graça de Deus do que a mãe ... Como o procurei entre os rostos claros e identificáveis dos bem-aventurados! Então minha felicidade teria sido completa, embora já tenha sentido alegria em ver a minha mãe, por quem tanto rezei em vida e depois de sua morte.
Acredito – embora não saiba se o que acredito é exato – que sua expiação acaba de terminar ou que ela está prestes a terminá-la, que ela está ali no umbral, na fronteira entre o Purgatório e o Paraíso e que por esse motivo ela é menos resplandecente que os outros, está menos absorvida em Deus do que eles e ainda mostra a necessidade de se lembrar da Terra e também um impulso, surgido de seu renascimento na Perfeição: o impulso de me contar agora tudo o que ela nunca sentiu e precisava me dizer, que não fez nem mesmo em seu último dia, e remediar todo o seu egoísmo intransigente e arrogante.
Sei que aqueles que a conheceram não acreditarão em uma expiação tão rápida. Mas acho que Jesus queria que eu soubesse para que eu ficasse menos magoada. Alegro-me com a lembrança de tudo o que vi e bendigo ao Senhor por isso.